sexta-feira, 24 de maio de 2013


"Eu sei que algures, mais adiante na minha vida, hei-de encontrar quem esteja em casa à minha espera quando eu chegar. Sim, eu sei, está escrito, é sempre assim. Mas era agora que eu queria não sentir este vazio, não te sentir tão distante, tão longe do deserto. Queria só dar um sentido à nossa viagem. Já sei, já sei que nada dura para sempre - só as montanhas e os rios, meu sábio. Mas o que fomos nós um para o outro: apenas companheiros ocasionais de viagem? Com o tempo contado, com tudo previamente estabelecido e com prazo de validade previsto à partida? Foi só isso, diz-me, foi só isso o nosso encontro? Não ficou mais nada lá atrás, não deixámos nada de nós os dois no deserto que atravessamos?"

No Teu Deserto, Miguel Sousa Tavares

sábado, 20 de abril de 2013

domingo, 31 de março de 2013

Sobre a persistência da memória...

Lembro-me tão bem de como tudo aconteceu, todo o processo desde as birras e brincadeiras infantis em plena época de exames, a implicância própria de quando há interesse, as conversas e a troca constante de mensagens... até darmos a mão pela primeira vez, o primeiro beijo meio escondido numa noite de ribeira e de irmos deliberadamente em tempos separados para um jantar para que não se percebesse que "estávamos juntos". Lembro-me disso e da maneira como aos poucos nos tornamos para muitos uma espécie de "casal modelo", porque era bonito aquilo que existia entre nós. Lembro-me de como foi sentir e dizer "Amo-te" pela primeira vez, sem nunca antes o ter dito a ninguém, e lembro-me como acreditei que aquilo que tínhamos ia durar para sempre.
E hoje, passados 4 anos da primeira vez que acordei ao teu lado, recordo tudo, tudo com um sorriso e com a certeza que nada do que de mal aconteceu vai destruir as memórias que guardo em mim.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Sobre o reencontro...

O teu cabelo desalinhado e o teu sorriso sincero no momento em que os nossos olhares se cruzaram. O abraço apertado. O primeiro beijo depois de todo este tempo... Lembrou-me a maneira como tremeliquei a primeira vez que os nossos lábios se tocaram, mas se dessa vez quase quis fugir por não saber o que estava ali a acontecer, agora só queria prolongar aquele momento o tempo suficiente para perceber que sim, era real. Ter-te comigo é tão real e o sentimento que me vem cá dentro parece-me tão, tão real...
Tento não levantar demasiado os meus pés do chão, não usar rótulos, não dar nomes às coisas e viver as situações um dia de cada vez... Mas sentir a tua pele e ouvir-te suspirar, enquanto me olhas nos olhos, "Eu gosto tanto de ti"... Faz-me apenas pensar que sim, também eu gosto tanto, tanto de ti...

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sobre a ansiedade

Ansiedade

1) estado de perturbação psicológica causado pela percepção de um perigo ou pela iminência de um acontecimento desagradável ou que se receia; opressão; angústia
2) desejo veemente 
3) incerteza aflitiva 
4) impaciência
(Do latim anxietāte-, «disposição para a inquietação»)

ansiedade In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-27].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/ansiedade
>.

(do latim anxietãte, disposição para a inquietação)

Não sei se poderei chamar ansiedade a isto que vai dentro de mim... Sei que lhe posso chamar saudade, expectativa, apreensão. Medo. 
Esta minha tendência para o "over thinking" não me deixa simplesmente desfrutar da perspectiva do reencontro...
Dou por mim a pensar em tudo o que se passou desde o dia em que te beijei na face, te olhei e me levantei com a visão já levemente turvada, fechei a porta e senti as lágrimas escorrerem-me pelo rosto. Tanta coisa aconteceu desde aí, tanta dor, arrependimento e promessas de que tudo vai valer a pena e que vamos construir algo maior e melhor.
Chega agora o dia em que vou voltar a ver-te, poder abraçar-te, num abraço apertado e dizer-te o quanto senti a tua falta e o quanto quis que pudesses estar ao meu lado enquanto tenho estado a atravessar este caos... Vou poder olhar-te nos olhos e tentar esquecer todo o sofrimento que me tem acompanhado desde que voltei, olhar nos teus olhos e tentar simplesmente não pensar em nada... pela primeira vez, desde que fechei aquela porta, poder esvaziar a minha mente, enroscar-me em ti, aninhar-me ao teu lado e poder adormecer a falar de nada e de tudo.
Mas esta tendência em mim, este núcleo do meu cérebro não me autoriza a pensar apenas que vai ser maravilhoso, obriga-me a auto infligir-me este pânico, este receio louco e, muito provavelmente, infundado de que tudo vai ser estranho e que não sei se vou ser capaz de ultrapassar essa estranheza.
Tento concentrar-me na saudade, na expectativa. Vou tentar adormecer e pensar que amanhã, por esta hora, tudo vai ser melhor, muito melhor!
Quero acreditar que o momento em que chegues e atravesses a porta, caminhes na minha direcção e me toques novamente será o encerrar deste ciclo de "ansiedade", para que a saudade possa ser apenas isso, saudade! E que o medo se torne apenas em expectativa... e que a expectativa se torne realidade.

segunda-feira, 18 de março de 2013

How is Your Life Today?



The letters pile up in the hallway
Junk mail and bills from the catalogues
And the neighbours have guessed 'cos I've cancelled the milk
And they don't hear your voice through the walls anymore

How is your life today ?

I was kissed on the cheek by a cold mouth
While the taxi was waiting like a getaway car
Each second seems like a lifetime
And the cat it's been staring at me all this time

How is your life today ? 


sábado, 16 de março de 2013

Too young too dumb to realize...

 Às vezes estas coisas pirosas conseguem dizer-nos qualquer coisa...
Esqueçamos a voz esganiçada e pronto, concentremo-nos no que diz o rapaz.

Same bed but it feels just
A little bit bigger now
Our song on the radio
But it don't sound the same
When our friends talk about you
All it does is just tear me down
Cause my heart breaks a little
When I hear your name
It all just sounds like (oooooh)
Mmm too young too dumb to realize
That I should've bought you flowers
And held your hand
Should've gave you all my hours
When I had the chance
Take you to every party
Cause all you wanted to do was dance
Now my baby is dancing
But she's dancing with another man
My pride, my ego, my needs and my selfish ways
Cause the good strong woman like you to walk out my life
Now I'll never never get to clean up the mess I made
Ooh and it haunts me every time I close my eyes
It all just sounds like (oooooh)
Mmm too young too dumb to realize
That I should've bought you flowers
And held your hand
Should've gave you all my hours
When I had the chance
Take you to every party
Cause all you wanted to do was dance
Now my baby is dancing
But she's dancing with another man
Although it hurts
I'll be the first to say
That I was wrong
Oh I know i'm probably much too late
To trying apologize for my mistakes
But I just want you to know
I hope he buys you flowers
I hope he holds your hand
Give you all his hours
When he has the chance
Take you to every party
Cause I remember how much
You love to dance
Do all the things I should've done
When I was your man
Do all the things I should've done
When I was your man

sexta-feira, 15 de março de 2013

Sobre a saudade


Hoje senti a tua falta.
Não pela primeira vez certamente, mas de uma maneira que se abateu particularmente sobre mim, uma percepção dolorosa de que talvez as coisas não voltem nunca a ser aquilo que deviam ser.
Hoje dei por mim a pensar no quanto eras e és especial para mim, no quanto admiro a tua personalidade, a tua maneira de ser, mesmo que com as diferenças que se revelaram incomportáveis, és tu, tão simplesmente tu e eu gosto da pessoa que tu és. Gosto da tua maneira de estar, de falar e de te expressares, gosto da tua companhia, de conversar e de partilhar ideias, de falar sobre a música terrível que passa na rádio e sobre os filmes que deviam ou não ter ganho os óscares, de falar sobre o prato maravilhoso que comi ali ou acolá e de te dizer que tens que ver uma tal série nova.
Perguntaram-me "Tens saudades dele?" e eu respondi, sem hesitar, "Sim, claro que sim". Por mais que o sentimento se tenha mutado, há um carinho e uma preocupação que não abandonam o meu peito, o meu coração, não quero sequer tentar evitar isso, porque pensar em ti é pensar em algo maravilhoso que aconteceu na minha vida. A lembrança do nosso tempo será sempre para mim um motivo para me colocar um sorriso no rosto, um conjunto de recordações deliciosas que marcou, como te disse, a transição de "adolescentes grandes" para verdadeiros adultos, gente crescida, gente a sério.
Hoje senti a tua falta... Senti essa falta e lamentei, talvez mais profundamente que nunca, os caminhos que segui no fim do nosso tempo, um lamento que já não assumiu em mim a forma de desespero e raiva, mas sim apenas uma tristeza profunda e desalento, a constatação de que as acções têm, por vezes, consequências irremediáveis e que as minhas resultaram em tudo o que sempre desejei que não acontecesse.
Mais que em qualquer outro dia, hoje senti que queria pegar no telefone e enviar uma mensagem "Vou ao Porto, vamos tomar café?"... Mas sei que não o posso fazer, pelo menos não agora, não para já. Mas será que algum dia o poderei fazer? Será? Será que algum dia vou poder recuperar a tua amizade e a tua presença na minha vida?... Fiz tanto mal por medo de perder essa presença, por achar que não era capaz de imaginar os meus dias sem estares lá, fosse de que maneira fosse, mas eras um elemento demasiado fulcral, demasiado importante e lá me deixei levar de maneira tão estúpida e impensada, irreflectida...
Quis acreditar que não te ter como namorado não significava não te ter por perto e, na verdade, talvez não significasse, mas consegui fazer com que assim fosse. E agora tenho dias assim, em que alguma coisa me lembra de ti e invoca aquela reacção que se tornou como que um reflexo primitivo em mim de "Tenho que lhe dizer isto" e paro e percebo que isso não vai acontecer, não vou poder simplesmente partilhar esse pensamento contigo.
Hoje estou bem, feliz, tenho perspectivas para o meu futuro e anseio entrar numa nova etapa da minha vida. Não estou sozinha ou abandonada, não tenho medo do que aí vem, acredito que tudo vai correr pelo melhor e que tenho onde me agarrar e segurar para ir em frente com um sorriso. Mas, ainda assim, hoje, hoje senti a tua falta! Senti a tua falta de uma maneira que se pode dizer inocente, a falta do amigo, hoje ansiei poder chegar ao café e ver-te entre o meu grupo e falar contigo como falo com as pessoas que são mais importantes para mim.
Eu sigo a minha vida e tu a tua, em caminhos divergentes, separados, mas retenho em mim a esperança de que uma assimptota comum nos faça aproximar no futuro, em caminhos paralelos, próximos, cada um na sua própria via... um momento no tempo que nos permita a convivência saudável, que nos permita a conversa e a partilha de ideias, que nos permita que a presença do outro não provoque uma sensação de estranheza, um caminho que me permita saber que vou estar por perto, pegar no telemóvel e enviar a mensagem "vamos tomar um café?".

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


Preferia não me sentir no direito de estar revoltada com as tuas atitudes, porque isso significava que estavas a ser capaz se enfrentar as coisas “pelo melhor” e, em boa verdade, a ser a pessoa que eu achava que ias ser. Sempre admirei a maneira como preservas a tua intimidade, a maneira como tinhas o teu espaço e não fazias questão de andar a espalhar ao mundo aquilo que se passava contigo. Houve momentos em que quis que mostrasses até um pouco mais, que fosses capaz de expressar aquilo que te ia na alma à multidão, dizer que me amavas em voz alta, para toda a gente ouvir, houve vezes em que quase achei que guardavas demasiado para ti.
Ver­‐te agora assim, desse modo, a dar a conhecer ao mundo pormenores tão pequenos, tão íntimos, coisas que te pertencem, que te deviam pertencer, apenas a ti e àqueles que são da tua maior confiança... deixa‐me desolada! No meio de tudo isto, preferia ser apenas eu a má da fita, preferia ser eu a única a desiludir, a provocar o caos, isso significava que ias ser para mim algo para sempre intocado, alguém que eu ia recordar apenas com carinho, com uma sensação de aperto no peito e um arrependimento profundo pelo que te fiz passar.
Passo pelas nossas fotos e sinto frio na barriga, choro porque sei que destruí para ti todas essas recordações, destruí toda e qualquer possibilidade de as coisas virem a ser como poderiam ter sido se eu não me tivesse rendido à minha covardia. Nesses momentos, sinto-­‐me incapaz de olhar no espelho, ver a minha cara, ver a cara de alguém que foi capaz de fazer tão mal... E agora pergunto, porquê??? Porque é que estás a ser uma pessoa que eu achava que não ias ser? Porquê? Apetece‐me gritar “Não faças isso, para! Não vês que isso não é quem tu és”... Tenho a sensação de que foi suficiente que eu tenha fugido do meu trilho, seguido por caminhos que desconhecia e que achei que nunca iria seguir, não vás agora tu por esse caminho de procura de pena, procura de pessoas do teu lado, as pessoas só podem estar do teu lado! Então porquê?? Por que te expões dessa maneira, para quê? Não vês que não faz sentido? Não vês que isso só te deixa numa posição de ser humano desprotegido e que deve ser tratado como um elemento frágil que pode quebrar a qualquer momento, deixa­‐te na posição de ser humano coitadinho, que foi maltratado, humilhado e ultrajado. E volto a perguntar, para quê? Precisas realmente disso? Precisas que as pessoas saibam ao que foste sujeito, a cada pormenor vil que te fiz passar? E quando quiseres sair à rua de cabeça levantada e já fores capaz de meter o pé convictamente na memória do que fui para ti, as pessoas vão continuar a saber, a lembrar­‐se do que passaste, do horror que vivenciaste e quando quiseres não pensar no assunto vais ter quem te pergunte por ele e quando o tiveres esquecido vais ter quem to recorde e quando já ninguém te perguntar todos vão continuar a saber e, talvez aí, te questiones sobre o “para quê???”, de que te valeu a pena? Diz­‐me sinceramente de que vale isto?
Não preciso de quem me julgue para nada, o julgamento dos outros não me faz sentir em nada pior do que o meu próprio julgamento. Ver‐te olhar para mim como olhaste, questionar-­me como questionaste, foi, por si, mais do que suficiente para cair em mim, perceber o que tinha sido, o que tinha feito, a minha consciência pesa, pesa tanto que me custa levantar a cabeça. Não é o que os outros me venham dizer que me vai deixar assim tão pior. O único respeito que queria ter mantido perdi‐o irreversivelmente: o teu respeito por mim, esse não tem por onde regressar, não conhece o caminho de regresso, creio que as pontes que existiam para ele voltar foram completamente destruídas. As pontes, todas as pontes que criei até ti, senti‐as caírem, uma por uma, nos minutos em que falamos.
Destruí tudo o que tivemos por não ter sido capaz de confrontar a inevitabilidade do fim com coragem, não fui capaz de falar contigo, de ser sincera, não fui capaz de criar o terreno para que as coisas pudessem terminar bem... Antes deixei­‐me andar, fui caminhando com o meu medo, o meu pânico e, sem dar conta, caí abruptamente no precipício, sem volta a dar, sem caminho de retorno. Fui a pessoa que sempre jurei a mim mesma que nunca seria. Agora peço‐te apenas que não sejas tu, também, uma pessoa que não és, porque isso não te vai trazer nada de bom, apenas dor.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sobre a paixão e a dedicação

Tenho para mim que me apaixono sempre demasiado. É um facto, não sei apaixonar-me só mais ou menos. Entrego-me por completo, não sei prender os pés no chão, deixar o cérebro no controlo e viver um dia de cada vez.
Penso demais, planeio demais, tenho sonhos demais. Pinto na minha cabeça um sonho colorido, belo, repleto de luz. Não sei por que sou assim, que nervos surgem dentro de mim por ser desta maneira. Porquê? Por que raio tenho que ser tão apaixonada, tão intempestiva, tão sofredora? Acho que sou demasiado mulher, talvez seja isso. Amor, amor sem sofrimento não é amor, não vale a pena, não faz sentido. E depois? Depois as dúvidas, as incertezas que não sei se partem da minha loucura ou se fazem sentido, que não sei se são fruto da minha exigência ou se têm motivo de ser.

Apaixonada demais... um estado patológico de estupidez subaguda, no caso em particular, com tendência à cronicidade

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Perfeitamente substituível

Uma merda, às vezes é exactamente assim que nos sentimos: "uma bela merda".
A sério, mais me valia estar aqui quietinha e sozinha, sem motivo nenhum para me queixar. Era estar aqui, sem nenhuma razão para reclamar sobre a minha vida, sem qualquer questão a colocar. Era feliz, juro que era.
Mas não, a vida é madrasta, madrastinha que nos chateia e nos impõe questões, nos impõe a necessidade de questionarmos coisas que não gostamos que não queremos.
Podia sentir-me bonita, amada, desejada, única. Não. Antes sentir-me perfeitamente substituível, para quê estar com o ego nos píncaros? Fica-me mal. Assim é que está bem, pequena, ridiculamente igual a qualquer outra. Uma qualquer, é isso que sou.
Nem mais, nem menos: um pequeno ser, sem nada que faça de mim indispensável e mais irresistível do que qualquer outra no mundo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Same old story

Momentos em que sento em frente ao computador e dedico o meu tempo a escrever são, quase invariavelmente, momentos em que a homeostasia do mundo que me circunda tende a ser, por algum motivo, quebrada.
Ao fim de algum tempo de partilha começamos a aperceber-nos das diferenças que existem entre nós, daquelas pequenas características que por tudo e por nada são capazes de nos levar o auto-controlo e criar uma discussão em escassos instantes. Depois, à medida que a relação amadurece, vamos percebendo que essas pequenas diferenças não valem a dor que nos causam e aprendemos a conviver pacificamente com elas. De uma coisa há certeza: essas características existem em ambas as partes e o esforço para combater a antipatia que causam tem que ser mútuo, de outra forma alcança-se um equilíbrio patológico em que uma das partes faz todas as cedências e a outra permanece imutada.
Acredito em cada linha do que escrevi, contudo, e mesmo sabendo que, neste caso em particular, as cedências são reciprocas há sempre os momentos em que sentimos que merecemos um pouco mais do que aquilo que nos é oferecido. Chega sempre a altura em sinto que merecia talvez não muito, mas um pedacinho um pouco maior de partilha, de entrega e, acima de tudo, de dedicação. Porque, quer queiramos quer não, uma relação não subsiste sem dedicação, sem entrega, sem a noção de que algo só dura para sempre se fizermos tudo ao nosso alcance para que assim seja. Uma relação é algo delicado que necessita de cuidado permanente. Ficar impávido e sereno a assistir ao tempo passar não prolonga a duração de uma relação, atribui-lhe um prazo de validade que é determinado ou pela paciência do elemento que demonstra maior entrega ou simplesmente porque termina o que o outro tem para oferecer per se e nada foi feito para construir novas ambições e velhas recordações.
Estar numa relação é estar numa busca incessante por estar sempre bem (e cada vez melhor) com a pessoa com quem partilhamos a nossa vida, com a pessoa a quem, voluntariamente, dedicamos os nossos dias e a quem oferecemos o nosso coração. É nesse voluntariamente que cada um se deve focar; a pessoa que amamos ofereceu-nos o que de mais frágil tem e é nossa responsabilidade garantirmos que nada de mal lhe acontece.
Faz parte das nossas competências saber o que fazer e quando o fazer, faz parte das nossas competências saber que o outro não é um dado adquirido, um elemento certo e assegurado nas nossas vidas, quando menos esperarmos as coisas podem mudar a sua conformação e, sem que tenhamos noção de como aconteceu, estamos sozinhos, à deriva e sem saber o que fazer num mundo que nos habituamos a partilhar.
Esquecer algo tão simples como partilhar uma "intenção de" pode deixar o coração do outro apertado, a sentir-se diminuído e menosprezado... Porque a única questão que assalta a nossa mente é "mas porque não me perguntou? certamente porque não me queria por perto ou não queria que tivesse influência na sua decisão".
Saber que num longo tempo disponível, partilhar uma actividade connosco não faz parte das prioridades da pessoa que amamos e saber, simultaneamente, que existem os tais planos para os quais não fomos tidos nem achados e pressentir, à partida, que do tempo sobrante vem uma justificação já quase vintage nesta relação como "também tenho que ficar por cá algum tempo, tens que compreender" é motivo para, mais uma vez, o coração se apertar e doer um pouco.
O que dói, mais do que a distância, é saber que a presença não tem para o outro a mesma importância que tem para nós, é saber que não irá haver sequer um minuto de hesitação quando tiver que ser feita a opção "2 vezes eles e nenhuma vez eu vs 1 vez eles e uma vez eu"...
Um longo suspiro é tudo que me ocorre depois disto... parece-me um assunto já tão debatido, já visto e revisto, discutido, dissecado, retalhado... Mas, de quando em vez, lá volta a questão à cena e torna-se tão actual e dolorosa como da primeira vez.
Incomoda-me sentir esta inércia dentro de mim que já nem me deixa expressar devidamente a dor que sinto... fico-me por uma sensação de um pequeno vazio, como algo que me é roubado, algo que me devia pertencer mas que, por já saber, à partida, que não é bem assim é-me levada a capacidade de chorar ou sofrer devidamente com isto... fico apática, sem capacidade de reacção... as sad as that can be...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

tempo para viver (quando deve ser...)

Chegamos a determinado ponto em que um conflito entre actividades que nos dão um certo prazer e o conforto das manias que ganhamos ao longo dos anos se mostram de difícil compatibilidade.
Parecendo que não, aqui estou eu a iniciar o meu sexto ano na faculdade (god...) e, por mais que o meu modo de ser, tranquilo e despreocupado, me permita levar muitas coisas "na boa, sem stresses", a verdade é que o peso desta terceira idade no que diz respeito aos anos de faculdade se abate sobre mim. Há alturas em que ignoro e que vivo como se fosse um "semi-puto" feliz de capa traçada e pasta na mão já com saudades de ser praxada, em que dou por mim a sair em noites consecutivas, aparentemente cheia de energia, como alguém que está pela primeira vez fora da casa dos pais e quer aproveitar ao máximo a sensação de liberdade.

O que acontece, o que me custa é que por mais que tente negar e dizer que "estou um bocadinho mal-disposta" (...) "Não estou no meu melhor humor" (...) "Não se passa nada" a verdade é que cá dentro sinto-me já muito desgastada destas andanças e, por mais que a vontade de reacender a paixão pelo academismo seja grande, os pés cansados, as olheiras e a incapacidade para sair da cama para ir às aulas no dia seguinte denunciam a minha velhice no que a este ponto diz respeito. Continuo a tentar achar que é possível juntar-me às mais pequenotas e ignorar a diferença evidente que existe na nossa vivência, na nossa maneira de estar e construir algo que se possa dizer que valha a pena. Quando estamos ligados ao topo de uma determinada hierarquia mas a nossa posição devida é na base da pirâmide é (incrivelmente) difícil saber que postura adoptar.

Sinto-me um pouco como "feeling twenty two (three neste caso), acting seventeen". Gosto do projecto em que estou envolvida e sei que me vai, certamente, trazer variadíssimos momentos de diversão, convívio e mesmo felicidade. Mas odeio, odeio profundamente, ver-me quase que obrigada a aprender a fazer algo pelo qual sinto o mais profundo desdém e é, muitas vezes, nesses momentos em que penso "isto não é nada verdadeiramente sério, já não tens idade para te sujeitar a esta pressão se isso te incomoda". Não me considero particularmente trabalhadora mas sei que sou boa a organizar, a planear, a orientar; o problema que se coloca é, nada mais que, a minha posição actual, no projecto em causa, não me permitir dar uso às minhas melhores capacidades e "obrigar-me" a uma série de tarefas para as quais já não me sinto, minimamente, disponível, a minha paciência já não é capaz de as suportar, não porque considere que são injustas, inadequadas ou que as "instruções superiores" sejam, de algum modo, impensadas. Acontece simplesmente que o meu tempo para essas coisas já passou, já vivi, embora não com este grupo, todo este tipo de experiências, já senti as minhas revoltas, já tive os meu momentos de indignação, agora, o meu estado de espírito, o meu modo de ser já não me permite viver tudo isto com a mesma capacidade de aceitação.

A sensação que me fica e que grande parte do meu tempo já passou e que não vou a tempo de tentar recuperar coisas que devia ter vivido há 4 anos atrás...

How sad can that be?...

domingo, 21 de novembro de 2010

Don't worry... be happy!


Às vezes, pergunto-me se seria capaz de viver num mundo diferente daquele a que me habituei.
É tão fácil questionar aquilo que sou e o modo como vivo, fácil demais olhar para os meus hábitos e pensar que gostaria de fazer X, Y ou Z, dar asas ao meu poder criativo, à minha liberdade de ser, estar e viver.
Encho-me de coragem e penso nas infindáveis hipóteses que a vida me dá, nas perspectivas daquilo que se avizinha , quando levanto os olhos para ver o mundo.
Sabe bem sentir a brisa, caminhar junto à praia e fazer planos, pensar que não tenho medo da mudança, que estou disposta a receber o futuro com um sorriso.
É tao fácil pensar no que quero fazer e dizer, pensar que quero conhecer o mundo sem amarras.
Ao fim de algum tempo, pensaria que minha liberdade teria o tamanho, a forma e a consistência da distância que existe entre nós... mas, em verdade, essa distância não existe. Assim, os caminhos que traçamos são comuns e a liberdade que seria curta, não moldável é antes exponenciada pela flexibilidade daquilo que existe entre nós, não quebra, não estira, não rasga, e se dói... há sempre uma qualquer antalgia que permite, que, depois, se tenham alongado os laços...
A distância que existe entre nós não é a que me afasta da liberdade, é sim a que me afasta da plenitude...
É tão fácil pensar em planos quando posso, depois, rir, pensar na estupidez das minhas ideias e deitar-me junto a ti com o rosto encostado ao teu peito, a ouvir a tua respiração e pensar que, sem ter que fazer por isso, as nossas ideias se irão encontrar, complementar...
São as pessoas felizes quem, certamente, faz mais planos, as outras, ivariavelmente, vivem à procura da felicidade e essa, quase sempre, chega por acaso...

Não me parece que seja capaz de viver num mundo diferente deste a que me habituei, nem tenho qualquer vontade de por a questão à prova!
É tão fácil habituarmo-nos a ser felizes... :)

Maravilhoso!


JP Simões - Tango do antigamente