Hoje senti a tua falta.
Não pela primeira vez certamente, mas de uma maneira que se abateu particularmente sobre mim, uma percepção dolorosa de que talvez as coisas não voltem nunca a ser aquilo que deviam ser.
Hoje dei por mim a pensar no quanto eras e és especial para mim, no quanto admiro a tua personalidade, a tua maneira de ser, mesmo que com as diferenças que se revelaram incomportáveis, és tu, tão simplesmente tu e eu gosto da pessoa que tu és. Gosto da tua maneira de estar, de falar e de te expressares, gosto da tua companhia, de conversar e de partilhar ideias, de falar sobre a música terrível que passa na rádio e sobre os filmes que deviam ou não ter ganho os óscares, de falar sobre o prato maravilhoso que comi ali ou acolá e de te dizer que tens que ver uma tal série nova.
Perguntaram-me "Tens saudades dele?" e eu respondi, sem hesitar, "Sim, claro que sim". Por mais que o sentimento se tenha mutado, há um carinho e uma preocupação que não abandonam o meu peito, o meu coração, não quero sequer tentar evitar isso, porque pensar em ti é pensar em algo maravilhoso que aconteceu na minha vida. A lembrança do nosso tempo será sempre para mim um motivo para me colocar um sorriso no rosto, um conjunto de recordações deliciosas que marcou, como te disse, a transição de "adolescentes grandes" para verdadeiros adultos, gente crescida, gente a sério.
Hoje senti a tua falta... Senti essa falta e lamentei, talvez mais profundamente que nunca, os caminhos que segui no fim do nosso tempo, um lamento que já não assumiu em mim a forma de desespero e raiva, mas sim apenas uma tristeza profunda e desalento, a constatação de que as acções têm, por vezes, consequências irremediáveis e que as minhas resultaram em tudo o que sempre desejei que não acontecesse.
Mais que em qualquer outro dia, hoje senti que queria pegar no telefone e enviar uma mensagem "Vou ao Porto, vamos tomar café?"... Mas sei que não o posso fazer, pelo menos não agora, não para já. Mas será que algum dia o poderei fazer? Será? Será que algum dia vou poder recuperar a tua amizade e a tua presença na minha vida?... Fiz tanto mal por medo de perder essa presença, por achar que não era capaz de imaginar os meus dias sem estares lá, fosse de que maneira fosse, mas eras um elemento demasiado fulcral, demasiado importante e lá me deixei levar de maneira tão estúpida e impensada, irreflectida...
Quis acreditar que não te ter como namorado não significava não te ter por perto e, na verdade, talvez não significasse, mas consegui fazer com que assim fosse. E agora tenho dias assim, em que alguma coisa me lembra de ti e invoca aquela reacção que se tornou como que um reflexo primitivo em mim de "Tenho que lhe dizer isto" e paro e percebo que isso não vai acontecer, não vou poder simplesmente partilhar esse pensamento contigo.
Hoje estou bem, feliz, tenho perspectivas para o meu futuro e anseio entrar numa nova etapa da minha vida. Não estou sozinha ou abandonada, não tenho medo do que aí vem, acredito que tudo vai correr pelo melhor e que tenho onde me agarrar e segurar para ir em frente com um sorriso. Mas, ainda assim, hoje, hoje senti a tua falta! Senti a tua falta de uma maneira que se pode dizer inocente, a falta do amigo, hoje ansiei poder chegar ao café e ver-te entre o meu grupo e falar contigo como falo com as pessoas que são mais importantes para mim.
Eu sigo a minha vida e tu a tua, em caminhos divergentes, separados, mas retenho em mim a esperança de que uma assimptota comum nos faça aproximar no futuro, em caminhos paralelos, próximos, cada um na sua própria via... um momento no tempo que nos permita a convivência saudável, que nos permita a conversa e a partilha de ideias, que nos permita que a presença do outro não provoque uma sensação de estranheza, um caminho que me permita saber que vou estar por perto, pegar no telemóvel e enviar a mensagem "vamos tomar um café?".