sábado, 5 de abril de 2008

de criaturas despreziveis a homens das nossas vidas*

os homens sao, definitivamente, criaturas reles, despreziveis, surpeficiais, basicos, quase acreditaria q sao fabricados em serie... ainda assim... a vida com eles do nosso lado parece sempre melhor.
usam-nos e poem-nos de parte, passeiam o nosso lindo sorriso, os nossos fantasticos olhos, a nossa invejavel condiçao fisica, mostram-nos, exibem-nos como se fossemos um trofeu; mas, como com todos os galardoes, chega a altura em que ja nao faz mais sentido que os publicitemos, qual a soluçao? arranjar um novo trofeu! e o anterior? fica maravilhosamente bem colocado na prateleira!
e nos, parvas, patetas, ridiculas, sorrimos e acreditamos cegamente naquele carinho que nos parece sempre diferente do anterior, "é desta que acertei, é ele, é sem duvida 'one of a kind', vou ser feliz!". definitivamente o sexo feminino nasceu diminuido na sua capacidade de discernir quanto à integridade masculina(ou à falta dela!).
ainda assim, essa companhia, mesmo sendo falsa, dissimulada, faz-nos sorrir por uns tempos, andar loucas que nem pitas tontas irradiando felicidade porque o nosso "xuxu", o nosso "bebe" é mesmo especial, e é mesmo diferente de todos os outros.
porque nao ver os homens como objectos? nao seria, definitivamente, a melhor soluçao? mais eis que somos imediata e cruelmente abordadas, atacadas, castigadas pela sociedade "we're supposed to be ladies", angelicais, ingenuas, fieis, dedicadas, preferentemente submissas, doces, educadas... um sem fim de caracteristicas que fazem de nos marionetas, fazem com que estejamos enclausuradas dentro de nos mesmas, reprimindo o nosso id, usando e abusando do superego, uma vez apos outra.
ha sempre quem nao se preocupe, quem ponha de parte os preconceitos, os ideais retrogradas e decadentes, e viva, nada mais que isso! como sao vistos por quem esta de fora? como levianas, indecentes, como uma vergonha para a moral! mas... vergonha? nao vejo onde, como nem porquê!
somos nos as mais belas, as mais inteligentes, as mais desejadas e invejadas, somos nos a alegria e a vida! e sim "fazemos tudo aquilo que um homem pode fazer e de saltos altos!".
mas... sejamos realistas... é mesmo isso que queremos afinal? nao queremos um homem hoje, outro amanha e mais um e outro depois... queremos só ter o direito de procurar, de errar, de sofrer e encontrar o que queremos realmente, sem que nos recriminem, nada mais, nao me parece pedir em demasia.
dizem que somos complicadas... a verdade é que por vezes fazemos com que a simplicidade adquira contornos demasiado reboscados.
o que queremos afinal? simples: mimem-nos, desejem-nos, protejam-nos, amem-nos tendo como unico principio fundamental: a verdade. porque, definitivamente, o homem que queremos nao é o mais romantico, o mais bonito, o mais inteligente ou o mais desejado.
nao acredito em paixoes que surgem do dia para a noite, nem tao pouco em amores loucos que fazem com que façamos as maiores loucuras. acredito no sentimento que chega, dia a dia, que cresce com o convivio, com o crescer da confiança, com discussoes e atritos, com gritos, e expressoes de revolta que quase nos deixam sem voz.
acredito que o que conta nao sao as mensagens, os telefonemas, as supostas expressoes de paixao.
o homem que queremos é aquele que tem o dom da palavra e que quando fala o seu discurso flui leve e coerente... e quando nao fala o seu olhar e o seu abraço, em silencio preenchem todo o vazio que nos cerca.
se existe um homem das nossas vidas, ele sera, definitavemente, aquele que, para nós, sera proveniente de um fabrico exclusivo, para o qual olhamos um dia atras de outro e nao começamos a ver todas aquelas caracteristicas que vimos antes em todos os homens que tenham passado nas nossas vidas.
se ele existir sera (pelo menos para quem como eu)... o eloquente, o verdadeiro, o que sendo perverso e promiscuo é, ainda assim, delicado, o que entre na minha vida mais pacientemente e sem enganos, o que me faça ter, a cada dia, os pés no chao.
porque esse tal homem da nossa vida, essa pessoa certa "é o homem que nos puxa o lençol para os ombros a meio da noite"... é aquele que "como ja escolheu com quem quer passar o resto da vida (...) tem todo o tempo do mundo".
se existir um homem, um que nao se canse passado algum tempo, seja esse tempo mais ou menos longo; que nao nos queira so pelo que aparentamos mas sim pelo que somos; um que nao se apaixone mal nos vê, mas sim que esteja disposto a ir-se apaixonando aos poucos e poucos, e cada vez mais; um que seja mais que amigo e mais que amante.
o homem que leva o nosso coraçao, para sempre, é o que nos prova que "o todo é mais que a soma de todas as partes", ainda que individualmente as suas caracteristicas fizessem dele mais uma reles criatura com intençao de nos por na "prateleira".

olha-me de novo...

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst